Hoje há um subaproveitamento da aplicação desta energia, especialmente, em locais onde a incidência solar é alta, como no Brasil e em outros países próximos ao Equador terrestre
Não é mais novidade o potencial energético da luz solar. Hoje há um subaproveitamento da aplicação desta energia, especialmente, em locais onde a incidência solar é alta, como no Brasil e em outros países próximos ao Equador terrestre.
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Poderíamos não estar sob forte ameaça da crise hídrica e das altas tarifas se usufruíssemos melhor dessa fonte, entretanto, há pontos de desconhecimento em relação aos seus possíveis usos.
Confesso que, como leitora assídua e estudiosa do tema, pouco se falou, por exemplo, da missão chinesa lançada a Marte em julho do ano passado, em que foi enviado um robô movido a energia solar para buscar informações acerca do planeta.
O resultado da missão foi um completo sucesso: o pouso do robô foi preciso, exatamente como o planejado, após ficar em órbita em uma sonda para encontrar o melhor lugar possível para descer.
Há também o caso do ‘Zhurong’, o robô chinês — programado com carga movida à energia solar — que foi a Marte no início deste ano e fez um post em uma rede social.
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O mais interessante desta notícia é que Zhurong pesa mais de 200 quilos e está equipado com quatro painéis solares para o fornecimento de energia elétrica e isso irá abastecê-lo por três meses.
Compreender a dinâmica do clima marciano ainda é um dos principais desafios entre os cientistas.
Com base neste caso, mostra-se a versatilidade e importância da energia solar, que foi usada para um fim que era considerado inimaginável há alguns anos, dando à China o título de segundo país a pousar um objeto não tripulado na superfície de Marte.
Então, vem a pergunta: Se podemos ter um robô movido a energia solar em Marte, por qual motivo ainda não usamos a energia solar nos transportes terrestres?
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Cenário 1: Imaginamos que, no momento, o seu carro seja elétrico e no seu percurso você tem que passar em um eletroposto ou estação de recarga, abastecer e seguir sua rotina.
Caso não tenha um carro, suporemos um passeio com um veículo de aplicativo totalmente sustentável, e sem ruídos.
Aliás, se preferir ter uma maior sensação de liberdade, que tal uma bicicleta elétrica?
Cenário 2: Você está com seu smartphone e com ele liga a televisão, regula a temperatura e iluminação do ambiente e ainda coloca seu robô aspirador para deixar sua casa limpa e, de repente, assiste a reportagem sobre um robô em Marte funcionando apenas por energia renovável. Isto não é uma ficção científica.
Esses panoramas já não são impossíveis, e acredite, estamos mais próximos do que imaginamos de adentrar esses contextos e, em tese, podemos nos considerar cada dia mais dependentes deles.
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Energia solar moverá o mundo
Mais do que o significado da pesquisa e ida a Marte, essa missão espacial nos mostrou o avanço de questões relacionadas à energia solar, que, possivelmente, moverá o mundo nas próximas décadas, principalmente nos setores de transporte, infraestrutura e o da própria energia, obviamente.
Vemos mudanças por todas as partes, nos últimos anos houve uma grande revolução no setor de mobilidade urbana tanto no coletivo quanto no individual.
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Dados da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) dizem que em 2018 o comércio desses veículos aumentou suas vendas em cerca de 58%, ultrapassando a marca de 2 milhões.
Estima-se que até 2050 mais de um bilhão de veículos elétricos (distribuídos entre ônibus, motocicletas, quadriciclos e caminhões) estarão em circulação no mundo.
Em muitos lugares do mundo estes meios de transporte são abastecidos pela eletricidade gerada pela queima de combustíveis fósseis, retornando ao mesmo problema inserido nos de motores de combustão interna.
Uma saída para o dilema da propulsão está no uso da energia solar como uma fonte ainda maior na composição da matriz energética.
A Irena lançou no fim de 2019 outro relatório em que aborda sobre o futuro da energia solar fotovoltaica e destacou maneiras de acelerar a transformação da energia nos próximos 30 anos, combinada com a necessidade de atingir as metas climáticas.
Os resultados preveem que a implantação massiva e acelerada pode fornecer 21% das reduções de emissão de CO₂ (4,9 gigas toneladas por ano) até 2050. Porém, a agência também alerta a importância dos incentivos governamentais para a aceleração do processo de expansão e arranjo de geração no setor elétrico.
Brasil: mobilidade elétrica também avança
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Em países mais desenvolvidos, os veículos elétricos podem ser recarregados em casa, no trabalho ou em uma estação de recarga pública. No Brasil, apesar da tecnologia ainda ser incipiente, é uma tendência.
A energia que usamos aqui é proveniente de usinas hidrelétricas, eólicas, solar, biomassa e combustíveis fósseis como carvão, óleo e gás natural.
Para sermos mais sustentáveis, uma boa solução seria utilizar pontos de recarga com sistemas solares fotovoltaicos conectáveis à rede elétrica, permitindo a geração distribuída.
Ter este histórico é fundamental para entendermos que os sistemas de energia solar, até quase 10 anos atrás, eram instalados e isolados da rede elétrica, mas em 2012 foi aprovada a Resolução Normativa n.º 482 (e RN n.º 687 de 2015) permitindo que esses sistemas pudessem operar interligados a rede de distribuição.
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Na prática, se o carro elétrico for recarregado na residência, o sistema solar pode ser utilizado para gerar energia suficiente para a casa e o veículo.
Em uma estação de recarga pública, seria possível dimensionar o sistema realizando a previsão diária de quantos carros poderiam ser atendidos e suas prováveis demandas
Se olharmos para o mercado de carros elétricos e híbridos no País, mesmo durante a pandemia, houve um aumento significativo.
Enquanto a venda de carros novos no Brasil caiu 26,6% em 2020 na comparação com 2019, os modelos elétricos e híbridos vendidos em no ano passado representaram um aumento de 66,5%.
Para o padrão brasileiro é excelente, mas em representatividade global, ainda não diz muita coisa.
Uma pesquisa da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) prevê que, em 2030, o Brasil terá 80 mil pontos de recarga para carros elétricos.
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Este número, ainda modesto se olharmos a extensão continental do País. Pode não ser o ideal, mas certamente estamos de acordo de que será mais um impulsionador para aumentar a capacidade de gerar energias renováveis.
Principal fonte de energia do mundo
Desde as atualizações de eficiência até melhorias no armazenamento de energia, bem como as capacidades dos equipamentos e o aproveitamento completo da incidência de luz a soma de toda das pesquisas com os aparatos e usos já existentes tende a um caminho claro: a expansão completa da energia solar para alcançar o ponto de uma das principais fontes energéticas renováveis.
Alguns podem dizer que já somos referência em ter uma matriz energética limpa pelo intenso uso das hidroelétricas, mas elas não são suficientes.
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Já passamos do momento de romper paradigmas e buscar soluções ao invés de navegar à deriva em águas que não caem do céu.
Temos sim, um potencial hídrico elevado e capaz de ser a nossa principal fonte, porém, temos o infinito da aplicação da energia solar.
Os reservatórios de grandes hidroelétricas e áreas alagadas, como lagos artificiais, podem ser recobertos por sistemas fotovoltaicos flutuantes, como já existem próximos a Manaus e em Sobradinho.
Além de fontes alternativas, reduziriam a evaporação da água, diminuindo as perdas da geração hidroelétrica.
Outra vantagem seria a diminuição da penetração de luz solar no corpo d’água, que reduziria o crescimento de algas que podem levar à eutrofização do lago formado pela barragem.
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A energia renovável é um caminho sustentável sem volta. O futuro — que já não é mais tão longe assim — já chegou até em Marte.
Sem energia renovável, muito provavelmente o robô Zhurong não desvendaria com a qualidade necessária as funções aos quais foi programado.
Entre todas as fontes, a solar deve prevalecer. Fora a frase mais clichê de que vemos diariamente o ‘Sol nascer’, reforço que diariamente o Sol deve prevalecer para as transformações urbanas vindas com estudo e inovação.
Se já percebemos que estamos evoluindo, então que tal associar a mobilidade urbana, também, com a energia produzida pelo Sol? É sustentável, é mais barato e trará boa parte da prosperidade na infraestrutura que a sociedade moderna nos exige.
Você, de certa forma, já é dependente da energia solar. Só não percebeu ainda...
*Marisa Zampolli é engenheira elétrica, CEO da MM Soluções Integradas e integrante da ABNT.
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É especialista em Gestão de Projetos, Gestão de Ativos, Energia Sustentável, Energia Renovável e Planejamento do Sistema Elétrico, além de consultora da International Copper Association na América Latina (ICA).
Já foi coordenadora do programa de eletromobilidade do Procobre e consultora no programa de aplicação de sistemas de aquecimento solar para comunidades de baixa renda.
Fonte: infosolar
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