Especialistas apontam que o uso do H2V na indústria local promete ser ainda mais relevante do que a exportação para consolidar o mercado no País.
Apesar da promessa de que o mercado global de hidrogênio verde puxe vários investimentos no Brasil, com os planos europeus e em específico dos alemães de tornar o combustível a “estrela” da transição energética no longo prazo, o mercado interno promete ser determinante para a consolidação da tecnologia no País e, na previsão de agentes envolvidos com o tema, tem potencial de representar receita até maior do que as exportações.
Imagem: Divulgação
Para começar, levantamento apresentado pela diretora da consultoria CELA - Clean Energy Latin America, Marília Rabassa, que participou nesta quinta (31/8) de painel sobre o tema do ees South America, em São Paulo, que faz parte do hub de inovação The Smarter.
E, aponta que em 2030 o mercado de hidrogênio verde deve representar no Brasil cerca de US$ 15 bilhões, sendo que US$ 9 bilhões serão para o mercado doméstico e apenas os restantes US$ 6 bilhões para exportação.
“A aposta é que esse hidrogênio fique aqui e gere outros produtos de valor agregado”, afirmou.
Para confirmar sua expectativa, Rabassa apresentou outras projeções. Em amônia verde, por exemplo, transformado para a fase líquida a partir do H2V, para uso como intermediário de fertilizantes, há um potencial atual de substituição de 35 mil anuais consumidas no País, dos quais 80% são hoje importados e de origem fóssil.
Esse mercado, porém, com o desenvolvimento da indústria de fertilizantes nitrogenados, pode ser, em 2040, de 1,6 milhão de t de H2V, com 25,9 GW de capacidade instalada em eletrolisadores para produção do hidrogênio.
Outro exemplo seria para produzir aço verde no Brasil, que pode atender a demanda europeia crescente por essa opção de descarbonização.
Em 2040, seria possível ter 11 GW em eletrolisadores para produzir 700 mil t de H2V para a produção de aço verde.
No Pecém – Também no projeto de constituição do hub de hidrogênio verde no Ceará, no complexo portuário e industrial do Pecém, embora entre seus 32 memorandos de entendimento já assinados pelo governo estadual com muitas empresas com intenções de exportar, a expectativa é a de que boa parte da futura produção também tenha destino no mercado interno.
Segundo a coordenadora de energia da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Brígida Miola, que também participou do painel do ees sobre hidrogênio verde, mesmo ainda não tendo como mensurar o quanto deve ser exportado e quanto consumido em aplicações no mercado interno, há muitas empresas dentro do Pecém com tendência a consumir o H2V para produção local.
Um caso é a siderúrgica Arcelor Mittal, com MoU assinado, e que tem meta de produzir aço verde no complexo com o hidrogênio do hub cearense.
Outro exemplo seria uma indústria de cimento que tem também intenção de produzir pela rota verde no local.
“Ou seja, a tendência atual no Pecém é que o hub não seja apenas para exportação”, disse.
Apesar disso, Miola afirmou também durante o painel que uma das empresas com MoU assinado com o governo do Ceará foi classificada para a segunda fase do primeiro leilão de hidrogênio verde da Alemanha, do projeto H2 Global, cujo edital foi lançado em dezembro de 2022 para compra internacional na forma de amônia verde.
Mesmo sem revelar o nome do grupo, o fato, caso confirmado, fará a produção no complexo se iniciar em 2026, prazo de entrega desse primeiro leilão (de vários) que o governo alemão pretende fazer anualmente.
Compartilha também da mesma visão de que o mercado doméstico deve ser importante para a difusão do H2V o diretor comercial da fabricante de eletrolisadores e reformadores para produção de hidrogênio, a Hytron, José Antonio Rossi.
Originariamente uma empresa formada por pesquisadores da Unicamp, adquirida pela alemã N&A em 2020, a Hytron, segundo Rossi, aposta na interiorização das plantas, principalmente para atender demandas de hidrogênio verde para mineração, siderurgia e indústrias químicas, cimenteiras ou de alimentos, todas elas consumidoras de hidrogênio com potencial de migrar para a opção de baixo carbono.
Nesses casos, continua Rossi, a opção de energia pode tanto ser para alimentar eletrolisadores com energia renovável do SIN como pelo uso de reformadores a vapor, a outra tecnologia que a empresa está dominando, a partir da reforma do etanol ou do biometano.
“A escolha da rota depende da disponibilidade de energia do local”, disse.
Fonte: Fotovolt
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