A julgar pela moda, o setor de energia em todo o mundo está embarcando em uma jornada de transição para um futuro limpo, verde e de baixo carbono alimentado por moinhos de vento e painéis solares. Vai ser uma longa viagem. De acordo com a IEA (Agência Internacional de Energia), 80% da nossa energia primária é originada de combustíveis fósseis – com o petróleo contribuindo com 32%, o carvão com 27% e o gás natural com 23%. Reportagem publicada na Forbes Brasil
Na Alemanha, uma usina de energia de queima de carvão sobre um campo de energia solar
A transição só poderá ocorrer tão rapidamente se as empresas de serviços públicos do mundo investirem os trilhões de dólares necessários para cobrir as colinas e pastagens do mundo com painéis fotovoltaicos, turbinas eólicas e reatores nucleares suficientes para substituir elétrons sujos por limpos.
O analista da indústria elétrica Hugh Wynne, da SSR, diz que os investidores devem operar sob a premissa de que os governos mundiais agirão de forma mais agressiva para controlar os maiores poluidores. O dióxido de carbono será regulado de uma forma ou de outra, por meio de um imposto, limite de comércio, permissões de emissão ou algo do tipo, diz ele. Essas empresas com emissões altas terão que pagar para poluir – enquanto aquelas com baixas emissões terão vantagens em termos de custo e lucratividade.
Wynne (ex-Bernstein Research) calculou os números sobre a intensidade do carbono das maiores empresas de serviços públicos do mundo, incluindo a maioria das integrantes da Forbes Global 2000.
Ele descobriu que as concessionárias “mais sujas” são aquelas com frotas movidas a carvão na China, Rússia e Índia. De acordo com seus cálculos, a China Resources Power e a Huaneng Electric emitem 0,97 toneladas de dióxido de carbono por megawatt-hora gerado (eletricidade suficiente para abastecer 1.000 casas com energia por uma hora). A Datang, com 0,94 toneladas/mwh, a Inter RAO, com 0,93, e a Zhejiang Zheneng, com 0,90, também fazem parte do mesmo grupo.
Do outro lado da escala encontramos empresas de serviços públicos investindo em energia nuclear: Exelon, com emissão de 0,05 t/mwh, e Electricite de France, com 0,08 t/mwh. A gigante espanhola de energias renováveis Iberdrola e a companhia do sudeste dos EUA NextEra (matriz da Florida Power & Light) estão empatadas em 0,21 t/mwh.
A pegada média global de geração de eletricidade é de 0,52 t/mwh, diz Wynne. Existem empresas notáveis do lado errado dessa média, mas com espaço para uma melhoria rápida em seu mix de energias renováveis. A Saudi Electric (0,65 t/mwh) é a única que gera mais da metade de sua energia queimando petróleo – uma condição que o reino da Arábia Saudita espera equilibrar rapidamente investindo em campos solares. Nos EUA, a NRG Energy, com sede em Houston, tem uma média de 0,68 t/mwh, já que suas usinas a carvão são significativamente mais poluentes do que suas concorrentes regionais.
Se ele estiver certo, isso pode levar, na próxima década, a mudanças dramáticas no ranking da Forbes Global 2000, à medida que as empresas que já avançaram em direção a emissões mais baixas se beneficiarão às custas dos poluidores.
Enquanto isso, algumas das empresas de serviços públicos mais progressistas estão ansiosas para aproveitar as vantagens das novas ferramentas, que evoluem a partir dos avanços no aprendizado de máquina e inteligência artificial. As companhias da lista Forbes Global 2000 Southern Company, Exelon e Dominion Energy, por exemplo, são todas clientes de uma startup chamada Urbint, que foi fundada pela Forbes 30 Under 30 Corey Capasso e arrecadou mais de US$ 40 milhões em financiamento para sua infraestrutura impulsionada por plataforma de segurança de IA.
O sistema da Urbint levanta registros e projetos de tubos, linhas e conduítes e constrói um modelo do mundo real. “É uma ferramenta extremamente transformadora”, diz Emeka Igwilo, diretora de dados da Nicor, uma divisão da Southern Company Gas, empresa da Southern Company, com sede em Atlanta (0,49 t/mwh, a propósito), que explica que a parte mais arriscada dos negócios de qualquer concessionária é quando as pessoas começam a vasculhar suas propriedades sem primeiro ligar para a empresa. Todos os anos, a Southern Company gera 2,2 milhões de ocorrências nas quais o cliente pretende escavar e a empresa é legalmente obrigada a enviar alguém para fazer pesquisas e marcar os caminhos de linhas e tubos enterrados.
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A Urbint sobrepõe seus modelos digitais com relatórios de danos históricos, para saber melhor onde os acidentes ocorreram anteriormente e onde podem ocorrer novamente. O sistema detalha, para cada local, os riscos de escavação específicos, até mesmo sugerindo se é necessário adicionar mais mão de obra a um trabalho. “A ferramenta vai além do que o cérebro humano faz ao conectar os pontos a eventos aparentemente desconexos”, diz Emeka. “Agora não tenho pessoas dirigindo por aí em busca de problemas, posso encaminhá-las para onde precisam ir.”
A Southern implementou o Urbint em sua divisão Nicor em 2019 e em toda a empresa no ano passado. Eles já estão percebendo uma melhoria contínua na redução de incidentes.
A prevenção de vazamentos e acidentes ajuda a reduzir a pegada de carbono de uma empresa. Mas nem greentech nem IA serão suficientes para nos salvar. “Não importa o que você faça, alguém tem que girar uma chave inglesa”, diz Emeka. “Este é apenas um acréscimo ao trabalho físico. A ferramenta prevê, mas alguém tem que intervir.” Ainda precisamos de músculos, por enquanto.
Fonte: absolar.org.br
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